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Passando a limpo: Prado Blues Band


Igor Prado (guitarra e vocal), Yuri Prado (bateria), Ivan Marcio (gaita e vocal) e Marcos Klis (baixo acústico). Um quarteto que envenenou a cena nacional com o agradável ar dos anos 1940. Reconhecidos pela mídia e pelos músicos estrangeiros, a banda despontou como uma das melhores bandas do blues mundial. E para entender como nasceu esse fenômeno do blues, nada melhor que saber essa história através de depoimentos dos próprios colhidos desde 2008.



Para início de conversa, o que é jump blues? O que tem de tão especial?


Igor Prado - Esse estilo não é muito praticado em lugar algum. É um movimento feito por poucas pessoas que estudam música e tocam ao redor do mundo. Costumo dizer que é um mix entre o blues e o jazz. Os mestres dessa “onda” estão quase todos mortos e apenas uma pequena minoria continuou. Eu sempre ouvi muito o rhythm and blues de Little Richard e Chuck Berry, já que eles beberam muito do swing. Desde cedo, quando começamos a tocar nossos instrumentos, pesquisamos e estudamos demais esse estilo, assim como o blues tradicional.


Yuri Prado - O jump ou west coast é um blues derivado da junção entre o jazz e o blues. Na época, as big bands começaram a diminuir devido à crise econômica que impossibilitava bandas com mais de 20 músicos. Então muitos artistas consagrados começaram a montar combos menores, e toda essa história influenciou na criação/disseminação desse estilo particular.


Marcos Klis - Na minha percepção, o Jump Blues, que é uma das primeiras formas do R&B, é um blues mais alegre, mais dançante. Os caminhos de walking bass refletem esta atmosfera mais festiva. Em Chicago, por se tratar de uma metrópole, com todo tipo de dificuldade, violência e inverno rigoroso, o som rola mais sombrio, mais triste, mais intenso. A tristeza é uma das características mais marcantes do Blues, e quando a tristeza “abafada” do delta do Mississipi desembarca em Chicago, o Blues se eletrifica e ganha uma conotação mais nervosa e isso se reflete nas linhas de baixo menos melódicas.


Ivan Marcio – O blues de Memphis considero um swing mais voltado para vocais, pianistas e guitarristas, já na Califórnia tínhamos alguns grupos com o combo (mais voltado ao jazz) que viria a ser como a sonoridade da Prado Blues em seu ápice. Tínhamos na veia Louis Jordan, T. Bone Walker, Duke Ellington, Hollywood Fats, Little Charlie & The Nightcats, entre outros.


Como a banda nasceu?


Igor Prado - Nós morávamos bem próximos um dos outros no ABC (SP) e escutávamos praticamente as mesmas coisas. Resolvemos, então, nos juntar e tocar. Esse foi o melhor aprendizado. Curiosamente, fizemos o nosso primeiro ensaio após um ano tocando juntos para a gravação do primeiro CD (risos).


Ivan Marcio - Foi um projeto completamente diferente do que havia na cena musical do Brasil, onde as bandas em sua maior parte apenas tocavam Blues Rock. Nós estávamos caindo de cabeça no jump blues e músicas dos anos 40. A Banda teve seu fim, se não me engano, em 2008, mas nada que não nos permita retornar e fazer algumas apresentações para relembrar nossos bons momentos juntos. Eu e a família Prado somos vizinhos e, sempre quando possível, nos vemos e participamos juntos de alguma maneira em alguns projetos, como tocar com Muddy Waters Jr.


Yuri Prado - Eu e o Igor já estávamos na tentativa de montar um projeto de blues. Na época estávamos fissurados num estilo de blues até então nunca explorado aqui no Brasil, o west coast blues. Já conhecíamos o (Ivan) Marcinho de outros projetos, e, conversando, decidimos armar um projeto com uma proposta inovadora. A partir daí, só nos faltava um baixista acústico, foi aí que achamos o Marquinhos (Klis). O time estava pronto para começar a jornada, com muito estudo em cima da identidade do west coast. Assim lançamos nosso primeiro álbum.


Marcos Klis - O primeiro contato com os irmãos Prado foi meia hora antes de um show. O Igor havia me ligado uns dias antes, mas como as agendas para um ensaio não bateram, acabamos fazendo o show sem ensaio. Nestas ocasiões é que a gente vê se a química musical existe ou não, aliás, este é o espírito do blues. Nas gravações dos grandes nomes do Blues, a gente percebe a falta de ensaio e o som que rolava era a mais pura verdade interior de cada um. O show fluiu como se já tocássemos há anos e aí recebi o convite para entrar na banda.


Ivan Marcio - O repertório no começo foi de acordo com as experiências de cada um, mas curtíamos muito Little Charlie and the Nightcats, Little Walter, Big Joe Turner, Pinetop Perkins, Muddy Waters, Junior Watson, Kim Wilson e muitos outros.


Como surgiu a ideia de um figurino fiel aos anos 1940?


Ivan Marcio - Assisti à uma entrevista do John Pizzarelli no Jô Soares e o Jô disse para ele: “Nossa, sempre com belos ternos”. John respondeu que uma boa roupa também faz a diferença no som que ele fazia, pois também faz parte de todo o universo ali instaurado para a apresentação. Isso foi demais. Fui com minha namorada (hoje minha esposa) e compramos um terno na Colombo, uma camisa e uma gravata. Tudo sempre muito colorido e com estilo antigo. No início, não entrava muita grana e acabei usando essas roupas por muito tempo... (risos)


Vieram os primeiros shows, logo veio o primeiro disco, Prado Blues Band, e o reconhecimento...


Marcos Klis - Os shows eram de fazer inveja a qualquer pastor protestante! (risos)


Ivan Marcio - Tocamos muito pouco fora de São Paulo. Fizemos nosso primeiro show em Curitiba, depois no RJ (umas 2 vezes), Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e foi apenas isso. Sem contar com os shows pelo interior e litoral de São Paulo.


Yuri Prado - O primeiro álbum foi uma consolidação do estilo que estávamos estudando na época e o resultado foi tão legal que conseguimos trazer para o publico brasileiro um pouco dessa onda tão desconhecida por aqui. Ivan Marcio - Tínhamos pouca grana e planejamos fazer a gravação ao vivo, inclusive as vozes, para registrarmos tudo ali. Foi fantástico porque eu não imaginava que o resultado seria tão bom. E isso carrego até hoje, gravando tudo ao vivo e tendo esse espírito tradicional de quem sabe faz ao vivo.


Marcos Klis - Começamos a vender discos fora, através da Chico Blues Records. Era quase inacreditável uma banda brasileira de Blues receber todo mês pedidos de compra do Japão, EUA, etc… O Chico foi um cara muito importante na divulgação do Blues aqui no Brasil e agora faz o caminho contrário, divulgando o Blues do Brasil lá fora. Infelizmente não chegamos a fazer shows no exterior.


Ivan Marcio - Somos respeitados por manter o estilo, fazer vários contatos, tocar em festivais juntos com os grande nomes. E isso ajuda muito.


Igor Prado - Percebi que eles já têm um respeito bem legal por nós, parece que eles nos veem como alguém novo dando continuidade a um movimento bem característico da região deles que, infelizmente, não é renovado pelos novos artistas de lá.


Eugênio Martins Júnior [editor do Mannish Blog] - Acredito que o grande mérito da Igor Prado Blues Band é a velocidade de sua evolução. Os integrantes são estudiosos das diversas formas de blues, principalmente o jump blues, uma espécie de blues misturado com o jazz que torna o gênero dançante e suingado. É a banda de blues brasileira com maior popularidade nos Estados Unidos. Todos os anos são convidados para diversos festivais e tocam para plateias americanas e europeias e não para brasileiros, o que na terra de quem inventou o blues, é um grande mérito. Também são responsáveis por gravar e fazer um intercâmbio com artistas gringos em profusão. Pra mim, é (era) a principal banda de blues do país hoje.


Jefferson Gonçalves [Músico] – Conheci o Igor Prado no início de 2000, nessa época ele tinha uma banda de Blues/Rock, estilo Charles Ford Band, e fiquei impressionado como ele dominava aquele estilo, mas era “mais um” que tocava esse estilo no Brasil. Passaram alguns anos e encontrei com ele novamente, já com a Prado Blues Band. Novamente, fiquei muito impressionado com a sonoridade da banda e com a evolução e mudança de estilo, pois ele dominara o vocabulário de jump blues com perfeição. Sem dúvida alguma foi o primeiro guitarrista brasileiro a dominar esse estilo, prova disso são suas tours internacionais tocando em grandes festivais. Todos os "gringos" que conheci que tocam esse estilo comentam sobre Igor e a Prado Blues com muito entusiasmo e admiração.


E o segundo disco, Blues & Swing?


Ivan Marcio - Estudávamos cada vez mais novos estilos e formas de se tocar com identidade, que é isso que faz toda a diferença dentro de qualquer estilo musical. Tocávamos todas as quartas no Hotel Hyatt em São Paulo e isso nos deu um amadurecimento incrível, pois no repertório não fazíamos apenas blues tradicional; mas, sim uma grande mistura do blues com outros estilos. Nós crescemos demais nesse período e caímos no estúdio Mosh com todo o gás para gravar o Blues and Swing . Depois as participações foram feitas no London Studios.


Yuri Prado - Em Blues and Swing apenas consolidamos o que queríamos fazer na época, com um pouco mais de requinte: apimentamos os arranjos com naipe de metais e ainda aproveitamos os nossos primeiros intercâmbios musicais com músicos norte-americanos para melhorar e dar mais molho e autenticidade ao disco novo.


Chico Blues [Produtor e dono da Chico Blues Records] – Eu só conhecia o Igor porque ele fazia faculdade aqui perto de casa e matava a segunda aula junto com um amigo (não lembro o nome). Eles vinham aqui para escutar blues, nessa época ele estava aprendendo a tocar guitarra. Algum tempo depois eles me mostraram o disco, Prado Blues Band, foi quando começou nossa amizade. Daí partimos para a gravação do segundo álbum, que sugeri de Blues and Swing. Inicialmente se chamava Blues Party. A produção e gravação foi bem tranquila, pois eles já tinham uma certa noção de estúdio. Gravamos em um único dia, no Mosh Studio. Depois adicionamos alguns overdubs com convidados.


O Terceiro disco, Flávio Guimarães & Prado Blues Band, foi aclamado, recebendo elogios de dinossauros do meio. Jerry Hall, renomado produtor americano e dono da Pacific Blues Co., declarou: "O Brasil não é conhecido pelo blues, mas Flávio Guimarães e Prado Blues Band estarão mudando isso com seu mais novo cd!". Como nasceu esse projeto?


Igor Prado - Isso nos deixa muito orgulhosos, porque o Jerry é um cara das antigas e, inclusive, já trabalhou na lendária Motown, onde gravou nomes como Marvin Gaye, Smokey Robinson e Stevie Wonder. Já produziu também muita gente da pesada do blues, como Kim Wilson, Rod Piazza e muito outros.


Yuri Prado - O disco com o Flávio veio de um desejo mútuo da gente em gravar um disco com uma onda mais tradiciional. Era uma onda que estávamos todos mais sintonizados na época, sempre buscando estudar a fundo as variações e particularidades pouco exploradas por outros artistas/bandas do gênero.


Ivan Marcio – O Flávio Guimarães teve que respirar muito blues tradicional e swing, pois tanto o Blues Etílicos como o trabalho solo são mais voltados ao blues de Chicago e blues-rock. Nós (Prado) já tínhamos o swing e seu conceito na veia, mas foi realmente maravilhoso ver o quanto Flávio mergulhou no jump blues, e isso me deixou ainda mais fã dele. Imagine um gaitista que cresceu ouvindo Blues Etílicos e de repente grava um disco com seu ídolo. Para mim foi mais que um sonho, percebi que estava realmente no caminho certo. Dividíamos o repertório e tínhamos arranjos para duas gaitas e em alguns momentos eu ainda tocava guitarra base na banda para dar mais peso ao nosso som.


Igor Prado - Foi maravilhoso! Eu praticamente aprendi a tocar guitarra sempre com um gaitista me acompanhando ao lado, gosto muito de gaita, apesar de não tocar. Foi muito legal tocar e produzir esse álbum com dois grandes gaitistas, até hoje esse disco é um dos meus favoritos!


Marcos Klis - O Blues Etílicos influenciou muita gente e o Flávio sempre foi um ícone no Blues brasileiro. Foi um grande prazer para todos da Prado gravar um disco com uma figura tão importante. O que mais me impressionou, e que ainda me chama a atenção, nos shows que faço com o Flavio, é a sua tremenda generosidade e liberdade em cima do palco. Ele respeita muito a individualidade musical de cada um e na gravação com a Prado, não foi diferente.


Chico Blues – A gravação com o Flávio foi bem tranquila. Nesse terceiro álbum, eles estavam mais experientes, e ajudou o fato do Flávio estar presente, um cara que já gravou vários discos. Entretanto, como era um repertório diferente para o Flávio, mais swing e tal, tivemos uma certa dificuldade em fazer essa junção. Ele sempre foi mais do blues/rock e tradicional. Foi um grande aprendizado . No final deu tudo certo, o disco tem faixas muito boas, apesar de eu ainda considerar Blues and Swing um dos melhores do blues nacional.


A banda encerrou encerrou, mas o blues continua...


Igor Prado - Acho que a minha carreira solo é o seguimento do que fazíamos na Prado, mas um pouco mais focado no saxofone e na guitarra. É um pouco mais jazzy e misturado com rhythm and blues e outras sonoridades do que na Prado. Acredito que seja uma evolução natural de todos da banda.


Ivan Marcio - Toco todo ano no Festival de Chicago e em bares, escolas e centros de cultura. Já fui convidado para tocar com Omar Coleman, que é um dos gaitistas e vocalistas que estão despontando na cena de Chicago!


Yuri Prado - A nossa intensa e voraz vontade de sempre entrar a fundo nas variações desse estilo que é nossa paixão nos distanciou um pouco dos outros músicos da Prado Blues Band. Infelizmente e felizmente fez crescer muito o projeto solo do meu irmão. As diferenças no universo do blues são tantas que dariam com certeza um livro. (risos)


Marcos Klis - A gente simplesmente tocava porque gostava e queria fazer cada vez melhor, logo de cara percebi que estava trabalhando com músicos de muita competência. Igor Prado, Ivan Marcio e Yuri Prado podem tocar em qualquer lugar do mundo ao lado dos grandes nomes do Blues. E o mais legal é que mesmo cada um tendo seguido seu caminho em trabalho solo ou em projetos paralelos, a amizade entre nós continua até hoje e eventualmente nos encontramos e tocamos juntos em eventos, bares ou shows.

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