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Bate-papo com Roberto Lessa


Às vezes por falta de informação, outras por puro preconceito, limita-se o blues ao eixo Sul/Sudeste. Um diagnóstico completamente equivocado! E Roberto Lessa é mais um que desmente essa falsa tese. Expoente da cena blues de Fortaleza, o guitarrista lidera a Blues Label e a Gumbo Blues, ambas com um trabalho extremamente competente. Sobre a cena local, fala com um pouco de decepção. "Estamos falando de uma população de 3,5 milhões de pessoas e só há três bares que têm condições de apresentar uma banda de blues completa, com som amplificado. Há ainda algumas iniciativas de um centro cultural do governo do estado do Ceará em parceria com a Casa do Blues e só. Nos resta criarmos os espaços e nos fazermos presentes em outros meio de audiência, como os meios digitais", lamentou.

A Gumbo Blues traz blues elétricos clássicos com algumas pitadas mais pesadas, nada mais natural para alguém que começou tocando em uma banda que fazia covers de AC/DC e Motörhead. A banda tem uma característica bem peculiar: não tem baixo, apenas guitarra, slider e bateria! Sobre essa inusitada formação, o fortalezense explicou como surgiu essa ideia. "Na verdade, a ausência de um baixista, inicialmente, foi circunstancial. Íamos fazer o show de estreia naquele festival que citei anteriormente e estávamos preparando uma configuração acústica com washboard, slide e violão. Soubemos depois que seria uma apresentação amplificada, com bateria e tudo. Resolvemos deixar como estava pois estava tudo dando muito certo nos ensaios".

Roberto Lessa é puro talento e merece o devido reconhecimento, em outras épocas minimamente menos negras faria turnês bem sucedidas por todo o Brasil. Mas enquanto o país não supera esse marasmo - e deserto - cultural, nos contentamos em acompanhá-lo via redes sociais e plataformas digitais.


Ugo Medeiros - Como começou a sua relação com a música? Você foi mais um a começar pelo rock para depois descobrir o blues? O que você mais escutava quando te deu vontade de aprender violão/guitarra? Roberto Lessa - Como a grande parte dos que gostam e tocam blues no Brasil, teve o rock como porta de entrada para o blues. Mas até meus doze anos de idade eu não fazia ideia do que era rock ou mesmo blues, até que veio o primeiro Rock In Rio e foi minha primeira revelação. Fui tomado por uma sensação inebriante de “É ISSO!”. Belos anos mais tarde, eu tocava em uma banda de rock que tinha por base de repertório músicas do Motörhead e do AD/DC. Em um ensaio, fomos tocar uma música mais blueseira do AC/DC, Little Lover. Tocar aquele "blues" foi minha segunda e grande revelação. Dali pra cá me entranhei cada vez mais no blues, ouvindo, colecionando, pesquisando, tocando, apresentando programa sobre...


UM - Poderia falar um pouco sobre a cena blues-rock de Fortaleza? Teve algum nome local que tenha te influenciado no início ou as influências vieram mais das bandas do sudeste e as estrangeiras?


RL - Embora me lembre muito bem de dois shows do Blues Etílicos em Fortaleza, na época ainda não tinha acontecido a segunda revelação. Fui um expectador. Curiosamente, quando me apaixonei pelo blues e decidi que iria tocar blues, tive como meu primeiro mentor alguém da cena blues local. E ele ainda era um estrangeiro, o norte-americano Ken Beaumont (na época guitarrista e vocalista da banda Matutaia), que me guiou nos primeiros passo da guitarra blues e me mostrou grandes mestres que até então não conhecia. Sobre a cena musical, posso falar melhor da cena do blues fortalezense. Atualmente, o mar não está pra peixe. Agora há pouco estava conversando com meus amigos da Associação Casa do Blues (uma associação que reúne bandas de blues de Fortaleza e que promoveu vários eventos de blues na cidade nos últimos anos) e perguntando qual bar em Fortaleza atualmente comporta apresentação de uma banda completa de blues, com repertório autoral. A resposta: três bares. Estamos falando de uma população de 3,5 milhões de pessoas e só há três bares que têm condições de apresentar uma banda de blues completa, com som amplificado. Há ainda algumas iniciativas de um centro cultural do governo do estado do Ceará em parceria com a Casa do Blues e só. Nos resta criarmos os espaços e nos fazermos presentes em outros meio de audiência, como os meios digitais. Mas é uma pena que haja tão pouco espaço para o blues nos bares de Fortaleza.


UM - Você poderia falar sobre a Gumbo Blues? Como foi formado?

RL - A Gumbo foi formada há puco mais de um ano especialmente para participar do Festival Acordes do Amanhã. O que seria apenas uma reunião temporária de músicos que já possuíam trabalhos consolidados no blues local começou a dar liga à medida que os ensaios aconteciam. A afinidade musical entre mim, Gabriel Yang (slide) e Marcelo Holanda (bateria) foi instantânea. Eu já trabalhava com o Marcelo em outra banda minha, a Blues Label. Subimos no palco completamente à vontade, já com composições próprias. Inicialmente seria uma apresentação acústica, por isso a formação sem baixo. Mas depois soubemos que seria tudo amplificado. Pensamos que poderíamos permanecer mesmo sem baixo, à maneira de Hound Dog Taylor e seus Houserockers. E eu acho que deu muito certo essa formação de slide, guitarra e bateria. O que mais inspira o som da Gumbo é a turma do norte do Mississippi, para quem os holofotes da música se voltou no início dos anos 2000. R.L. Burnside, T-Model Ford, Junior Kimbrough...

UM - O Gumbo Blues não tem um baixista. O quanto isso favorece e/ou dificulta o som da banda? Da onde veio essa ideia?


RL - Na verdade, a ausência de um baixista, inicialmente, foi circunstancial. Íamos fazer o show de estreia naquele festival que citei anteriormente e estávamos preparando uma configuração acústica com washboard, slide e violão. Soubemos depois que seria uma apresentação amplificada, com bateria e tudo. Resolvemos deixar como estava pois estava tudo dando muito certo nos ensaios. Apesar de não ser uma novidade no mundo do blues, estávamos sendo pioneiros no Ceará com essa formação. Não que seja uma dificuldade, mas a abordagem das guitarras tem de ser diferente do que se tivéssemos baixo. Precisamos estar sempre ligados aos bordões para o som não ficar magro e combinar com a base rítmica da bateria. Essa falta de um baixo favorece à crueza do som, que é algo que perseguimos.


UM - Qual o set-list básico dos shows? Também pensam em aumentar a quantidade de canções autorais? Escutei Spell your Gumbo, é porradeira, excelente!

RL - Ah! Obrigado! Nos shows sempre valorizamos nosso material autoral, tanto as músicas da Gumbo quanto as músicas de autoria minha e do Gabriel que fazem parte de outros trabalhos individuais nossos. Já temos várias músicas da Gumbo gravadas, mas que estamos disponibilizando paulatinamente nos canais de streaming em forma de singles. Em junho, soltaremos mais uma música nossa e no segundo semestre, lançaremos o disco completo, tanto nos streaming quanto em formato de CD.

UM - Poderia falar um pouco sobre a canção acima citada? Quando você compôs e mandou o solo , em qual artista você pensou, aquele que te deu a inspiração...?

RL - Pode não parecer, pois a música é bem pesada, roqueira; mas, para compor a parte musical de Spell Your Gumbo, me inspirei em Magic Sam - de quem sou fã - e seu boogie. A letra "hoodoo" me veio de inspiração quando assisti novamente ao filme "Coração Satânico".

UM - O que você pensa sobre o blues em português? Cogita algo no nosso idioma?

RL - Para mim o mais importante é a linguagem e não o idioma. Em se tratando de blues, é mais importante que a música soe realmente como blues deve ser independente do idioma. Aí que vem o desafio de compor melodias vocais em português que se encaixem bem na linguagem do blues porque cada idioma tem a sua sonoridade particular, além das estruturas de texto. Mas é plenamente possível fazer blues em português e soar como blues. Conheço muitos músicos que compõem em português e são ótimos blues. Eu mesmo tenho composições em português que as toco com a Blues Label.

UM - Vi um vídeo seu no youtube mandando muito bem em um duo acústico! Tenho que confessar, atualmente prefiro o blues acústico, naquela onda mais rural. Quais os nomes do blues acústico que mais te influenciaram?

RL - Fico feliz que tenha gostado. No vídeo somos eu e Gabriel Yang, o slider da Gumbo. Eu confesso que faço poucas incursões no mundo do blues acústico porque entendo que é necessária uma abordagem própria para o blues no violão. Embora goste demais e ouça muito blues acústico desde os mais roots à produção atual, meus estudos são quase que exclusivamente concentrados na guitarra elétrica. Mas há certos truques do blues acústico que acabei incorporando na minha abordagem da guitarra. Dos acústicos, os que me influenciaram mais foram Lightnin’ Hopkins e Robert Johnson. Sou apaixonado pelo Piedmont Blues de Blind Boy Fuller, Blind Blake, Blind Willie McTell e Elizabeth Cotten, além de Mississippi John Hurt.

UM - Se um ET te perguntasse o que é blues, quais os cinco discos que você indicaria?

RL - Bem, certamente ele já teria ouvido Dark Was the Night, Cold Was the Ground, de Blind Willie Johnson, que está viajando pelo espaço. Então eu indicaria The Complete Recordings do Robert Johnson; West Side Soul do Magic Sam; Mojo Hand do Lightnin' Hopkins; Born Under A Bad Sign de Albert King e Sweet Tea do Buddy Guy. Certamente ele ia pedir mais, então eu entregaria Sings Big Bill do Muddy; Live in Cook County Jail do B.B. King; Moanin’ in the Moonlight do Howlin Wolf e The Definitive Collection do Elmore James.



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