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Entrevista Kleber Dias


Ele toca baião, rock, blues, jazz, entre outros tantos estilos. Ao lado de Jefferson Gonçalves, cria um blues único com pitadas tipicamente nordestinas, mas sem esquecer elementos tradicionais ao estilo norte-americano. Fã de Hendrix e Luís Gonzaga, Kleber Dias conta como foi o começo de sua carreira e as novidades sobre o último disco, Ar Puro.


Ugo Medeiros - Como começou a parceria com o Jefferson?


Kleber Dias - Eu tinha uma banda, em 2000, chamada Experimental Blues. Aos poucos os arranjos ficaram mais elaborados, a banda estava numa ascendente. Infelizmente o nosso baterista faleceu nesse ano e demos um tempo. Passei a tocar numa peça de teatro, Francisco de Assis. Dentre os músicos que compunham o casting, fiquei amigo do Beto Silva (percussão). Junto com ele, fizemos um quarteto de blues que tocava Muddy Waters, Howlin’ Wolf e outros nomes do estilo. Fizemos alguns shows. Teve um no Néctar (casa de shows em Vargem Grande) que abrimos para o Baseado em Blues (primeiro grupo do Jefferson). Nós já havíamos sido apresentados, mas nunca tinha me visto tocar. Após a apresentação, fez questão de ir ao camarim nos parabenizar. Conversamos um pouco e, dentre os assuntos, falei das minhas origens musicais nordestinas. Ele sempre gostou dessas misturas. Acredito que, mesmo naquela época, ele já pensava na carreira solo, pensando no seu futuro musical. Em 2003, após fazer uma turnê da peça pela Itália, o Jefferson me ligou. Já estamos juntos nessa empreitada há quase quatro anos.

UM – Após dois excelentes discos, vocês se preparam para lançar o terceiro álbum, Ar Puro. Dizem que o terceiro é o decisivo da carreira. Como você o definiria?


KD – Ele já está pronto! Representa o amadurecimento como músico, parceiros e banda. Estamos crescendo juntos. Ar Puro teve um upgrade no quesito criatividade. O Jefferson, o Fabio Mesquita (baixo) e eu estamos juntos desde o começo, podemos ver a evolução enquanto grupo. Essa última formação, que inclui um novo baterista, é maravilhosa. Ele se encaixou perfeitamente com o nosso percussionista. A união é tão grande que todos os arranjos são coletivos. Certa vez perguntaram ao Santana o motivo de sua carreira de sucesso e ele respondeu que todos os músicos que estavam ao seu lado eram ligados entre si pela música. Acho que é por aí...


UM – Você toca blues, country, folk, rock, baião, entre outros estilos. Qual o seu favorito? Qual estilo melhor te definiria enquanto músico?


KD – A música regional, de uma maneira geral, me deixa bem à vontade, apesar de estudar bastante jazz e fusion. A minha ecleticidade é muito grande. Sempre que possível dou uma pitada de outros estilos e músicos: desde Jeff Beck e Jimi Hendrix a Luís Gonzaga, passando por Rachmaninoff. Sofri muitas influências de “cantadores” e de roda de viola. O trabalho com Jefferson propicia a minha volta à raiz nordestina já que minha família é daquela região.


UM – Como toda entrevista de guitarrista não poderia faltar “Como foi o seu primeiro contato com o instrumento?”.


KD – O primeiro contato, significativo, foi com dois primos da minha mãe, no interior do Ceará. O primeiro tocava nomes como Dilermando Reis e Villa Lobos. O impressionante era que ele tirava tudo de ouvido. O outro primo tocava com as cordas invertidas. Ver aquilo aos 15 anos me tocou. Quando voltamos, vendi algumas coisas, fiz alguns trabalhos e comprei um violão. A partir daí fui aos poucos aprendendo sozinho...


UM – Em alguns shows que fui, você vestia camisas do Hendrix. O quanto ele foi importante para sua formação?


KD – Só em falar dele já me arrepio. Eu queria muito tê-lo conhecido, ele passava uma felicidade, irradiava uma alegria, cativava por aquele jeito de ser. Por mais que fosse obrigado a fazer aquele mise-en-scène com a mídia, tinha um jeito peculiar. Ele criou toda uma atmosfera mágica, além de a sua trajetória ter sido fantástica. Sua riqueza melódica era imensa, nunca deixando de lado a simplicidade.


UM – Você também tocava numa banda cover dos Beatles, “Os 4 caras”. Como o quarteto te influenciou?


KD – Os Beatles são o começo para qualquer músico. A partir deles pode-se escolher um caminho que o levará ao blues, rock and roll, progressivo, hard rock, etc. Mostraram que era possível percorrer novos caminhos musicais. Helter Skelter é um rock pesadíssimo e não me intimido em dizer que foi uma grande influência ao heavy metal.


UM – Você tem pretensões de fazer uma carreira solo, com uma musicalidade mais ao seu gosto?


KD – Com certeza! A todo momento me cobram isso. O problema, agora, é a falta de tempo. Eu gostaria de fazer algo blues, tendendo ao folk. Eu devo muito ao blues.


UM – Voce já teve a oportunidade de tocar Brasil a fora. Como você enxerga o atual cenário blueseiro? E no Rio?


KD – Aqui no Rio de Janeiro está bad (risos). Temos alguns focos de resistência, na verdade, heróis. O Jefferson, o Big Gilson, Blues Etílicos, Big Joe Manfra, ou seja, o pessoal mais maduro que faz questão de tocar no Rio e acaba sofrendo as consequências: casas sem estruturas e cachês muito baixos. Como o nosso trabalho é, de longe, o mais diferenciado, nos chamam para alguns festivais. São limitados, mas nos possibilita continuar o trabalho. Se fosse apenas pelo Rio de Janeiro estaríamos ferrados.


UM – Além de musico, você também é luthier. Ainda é dificil para um músico, no brasil (em especial o de blues), viver da música?


KD – Levar uma carreira de blues e sobreviver com dignidade é difícil para caramba. Com o Jefferson, dividimos tudo irmamente. Se não fôssemos tão unidos, seria muito pior. O problema é que tem muito otário por aí que se diz bluesman, mas não sabe, ao menos, o que é blues. Isso é uma falta de respeito até com a cultura norte-americana. Se o músico consegue um gig para trabalhar com algum nome grande pop, a coisa melhora. É triste pois às vezes deixamos de tocar algo que gostamos (de qualidade) devido à falta de infra-estrutura mínima. Acho que falta um pouco de organização como no meio sertanejo por exemplo, estão firmes e fortes até hoje...


UM – Você tem uma invejável técnica guitarrística. Você acha que os novos guitarristas brasileiros, principalmente os de rock, têm abandonado o estudo da técnica?


KD – Justamente o contrário. Hoje em dia os caras estão enfeitando muito. O problema é que a música está muito racional, abandonando aquele lado intuitivo. A magia se perdeu. Eu sou praticamente autoditada. Costumo dizer que a minha técnica é a “técnica do amor” (risos). Ao mesmo tempo, felizmente, vejo que tem uma nova geração legal que curte o som setentista que eu também curtia. O feeling não pode se afastar da técnica.


UM – Para finalizar, que conselho você daria à molecada que tem pretensões com a música, principalmente com a guitarra?


KD – Sejam físicos nucleares (risos)! O importante é se dedicar com amor ao instrumento. Uma vez feito isso, o resto é consequência. Veja bem, apenas nos EUA são quase 10 milhões de guitarristas. É coisa para cacete, nem todos serão bem sucedidos. O importante é ser exigente no que escuta para que o som a ser feito também seja de qualidade.

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