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Omar Coleman - Live! At Rosa's Lounge


Chicago é o berço do blues elétrico. A cidade dos ventos, como conhecida pelo clima rígido, é lar de duas das gravadoras mais importantes da música estadunidense, a Chess Records e a Alligator Records. Sem falar que é a terra que adotou e abraçou icônicos bluesmen como Buddy Guy, Junior Wells e John Primer. Portanto, não é exagero afirmar que a metrópole americana está para o blues como o Rio de Janeiro está para o samba, Kingston para o reggae e Londres para o punk.

Imagine quando Zico, Pelé ou Rivelino se aposentaram. Os garotos que os substituíram e assumiram as camisas daqueles gênios, ídolos eternizados nos corações dos torcedores por tantas conquistas, provavelmente tremeram diante árdua incumbência. Difícil missão, não? Pois bem, é a mesma pressão aos jovens músicos de blues que aspiram por um contrato ou um mínimo de destaque na cidade seminal ao estilo. Muitos, como em uma peneira de uma escolinha de futebol, não conseguem sequer entrar no circuito de pequenos pubs. Outros, se com maior êxito, tocam por gorjetas no copo. Poucos alcançam apresentações em um Legends (restaurante/casa de shows do Buddy Guy) ou House of Blues (BB King). E desses, raros são os que impressionam o público e a crítica, inovam em sonoridades e se consolidam em um mercado cada vez mais restrito. Esse é o caso de Omar Coleman.

Nascido e criado em west side Chicago, região marcada por forte influência da soul music, o gaitista é o melhor exemplo do blues moderno. Fugindo de covers triviais, acrescentando um poderoso vocal, uma gaita virtuosa e sempre acompanhado por boas bandas, Omar conquistou o posto de revelação. Impulsionado pelos três discos anteriores, Very Lucky Man (ao lado de Sean Carney), West Side Wiggle e Born & Raised, o gaitista excursionou pela Europa e ainda passou pelo Brasil em 2014.

Após assinar com a Delmark Records e gravar o excelente (e já citado) Born & Raised, a gravadora apostou em um disco ao vivo, era o momento de transmitir a força e a energia de Coleman durante suas apresentações. A data desse novo desafio? Junho de 2016. Na verdade, dataS, pois o disco fora gravado em três apresentações matadoras. Diga-se, o álbum é tão bem produzido/mixado que o ouvinte não percebe essa diferença entre datas e atmosferas diferentes. Ponto para todos os envolvidos neste admirável trabalho. Passadas apresentações e meia dúzia de detalhes técnicos, é possível, agora, analisar o disco pelo que ele é, músicas e desempenho dos músicos.

Na abertura um clássico de Junior Wells, com certeza um dos mestres que o ensinou os obscuros e enigmáticos segredos do mojo (tempero e ingrediente essencial ao blues). Uma versão funkeada de Snatch it back and hold it aponta que a noite seria quente e os pés dificilmente ficariam parados, um groove de primeira dos teclados de Neal O'Hara conduzido com swing pela cozinha de Marty Binder (bateria) e Dave Forte (Baixo nas primeiras cinco músicas). E esse verdadeiro abre-alas do blues/funk ainda é emendado em um clássico do cantor Johnnie Taylor, Wall to wall. São sete minutos e dez segundos de uma porrada sonora, visceral, sem parar, uma locomotiva! Nossa, um parágrafo inteiro para descrever apenas a primeira faixa! E ainda há nove canções pela frente.

Um disco de blues que se preze sempre traz algo do maior produtor/compositor do estilo, Willie Dixon. Omar, pirata experiente desse navio que cruzou o Mississippi até aportar em Chicago, sabe bem disso e escolheu uma pegada clássica para I'm ready. Do clássico de um imortal para uma canção que tem tudo para se tornar um clássico na carreira do gaitista, Born & raised (do disco homônimo). Um tributo à terra natal, uma homenagem às raízes, uma biografia completa, passando pela guitarra rock'n'roll de Pete Galanis e a potência vocal de Coleman. A intensidade lembra em alguns momentos a entrega de Sly Stone (líder da Sly & The Family Stone) nos shows. O rock não faz apenas uma aparição, ele continua na festa com bastante vigor em Slow down baby, outra faixa autoral de Omar. O clima ferve e o refrão deixa claro "Slow down baby, you're too fast for me".

Após o termômetro estourar, duas músicas mais calmas na sequência. Calmas, mas nem por isso menos dançantes, caso de Sit down baby - Jody's got your girl and gone (duas músicas autorais coladas em uma) e Raspberry wine. Esta última com um sotaque jazzístico, novamente com destaque para os duelos entre teclados e vocais, e uma letra sobre uma bebida alcoólica típica da região (o que seria do blues sem o álcool?).

Lucky man segura segue a onda mais Chicago blues de forma honesta, mas sem grandes destaques. Finalmente, após sete faixas que transitavam entre o funk, o rock e o blues frenético, uma lenta, oportunidade de expor o feeling em One request. Mas, fique claro!, slow blues ficou apenas nessa, pois a penúltima é outra dose na veia de funk e soul. Antes mesmo da banda tocar Omar afirma “As you can guess, we like our Blues with a dose of Funk, Soul and all kinds of other stuff”. Na real, O público já tinha pistas sobre essas escolhas, apenas ficou mais evidente ao engatar uma canção de Rufus Thomas, Give me the green light. Para a saideira, novamente uma homenagem (acelerada e potente) a Junior Wells em uma letra de Willie Dixon, Two Headead woman.

Omar Coleman Live! At Rosa's Lounge é a consolidação de um artista que é um dos melhores da atualidade. Mais, é o certificado, com carimbo e firma reconhecida de que Omar Coleman é o futuro de um estilo que se confunde com a história de uma mega cidade. Sério, deem logo a chave de Chicago para ele!


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