Bate-papo Rob Heron
Um pouco de tudo, sotaques yankee, britânico e cigano, ritmos apimentados, acordeão e washboard, folk e swing. Uma mistura deliciosamente louca e inesperada, tudo liderado por Rob Heron e seus capangas musicais. É tanta influência, de diferentes origens, que fica até difícil definir. Rob, portanto, nos auxilia nessa árdua missão, "(...) o nosso som é influenciado por estilos americanos, como country, rockabilly, blues, swing jazz, etc. Entretanto, nossas músicas não são americanas e não gosto muito do termo "americana" para o nosso estilo".
O músico inglês, radicado atualmente em Newcastle, também explica sobre a influência da música cigana, a qual considera selvagem (no melhor sentido possível!) e conta sobre Barry Marshall Everitt, figura lendária da cena musical inglesa. O líder dessa interessante banda também falou sobre o yodelling, um sub-estilo dentro do country americano, "Comecei com o yodelling depois de escutar artistas de country como Jimmie Rodgers. Acho que essa coisa do yodelling acabou nas canções de cowboy devido à mistura cultural que são os EUA. No início da formação dos EUA os colonos eram irlandeses, escoceses, alemães, espanhóis, etc".
A música de Rob Heron and The Tea Pad Orchestra é uma agradável viagem pelas tradições Europeias, passando também pelos frutos do novo mundo. O último disco Something Blue é uma ótima iniciação nessa banda que herdou o antigo e o remodelou em algo perfeitamente palpável às novas gerações.
Ugo Medeiros - Rob Heron and The Tea Pad Orchestra é uma banda que toca um pouco de tudo. O que você mais escutava quando mais novo? Você é de qual cidade? Nessa cidade havia um estilo preponderante?
Rob Heron - Eu nasci em Carlisle, norte da Inglaterra, mas me mudei para Newcastle Upon Tyne, região nordeste, há dez anos. Quando era pequeno meus pais colocavam em casa uma mistura de coisas, folk, blues, reggae, rock dos anos 1970. Fui para Newcastle Upon Tyne a fim de aprender mais sobre folk e música tradicional, foi justamente onde conheci a minha banda e o nosso som se desenvolveu. Newcastle tem uma forte cena eletrônica, muito de música tradicional, uma boa cena punk, cena indie e uma grande variedade de estilos.
UM - Considero o som de vocês como uma "americana europeia". Você concorda? Você escutou americana durante a sua formação musical? Já tive essa discussão aqui no site, mas o que é americana para você?
RH - "Americana europeia" é uma boa definição porque o nosso som é influenciado por estilos americanos, como country, rockabilly, blues, swing jazz, etc. Entretanto, nossas músicas não são americanas e não gosto muito do termo "americana" para o nosso estilo. Uma boa parte da música americana do início do século XX foi tirada da nossa música britânica. "Americana" é bastante usada como uma grande manta que cobre qualquer um que cante formas musicais que já foram, alguma vez, americanas.
UM - Você considera o folk britânico como a base da música popular europeia?
RH - Não, considero como base da música popular europeia o blues, o rock and roll e o soul.
UM - Na sua opinião, Como seu deu a fusão entre o jazz americano e o gypsy (música cigana)? O jazz é um estilo livre, dessa forma, você consideraria o gypsy, até então, como o estilo europeu com mais dessa liberdade?
RH - Um estilo de jazz muitas vezes esquecido é o gypsy jazz, nós gostamos de acrescentar esse estilo na nossa música. A guitarra é bem virtuosa e o ritmos são bem selvagens. É um belo exemplo da diáspora musical e isso nos mostra como diferentes culturas podem fazer esse diálogo musical de uma forma brilhante.
UM - Você também toca yodelling, um estilo europeu que explodiu nos EUA entre os anos 1910 e 1920. Você conhece a origem desse estilo? Talvez da região dos Alpes suíços? É interessante, muitos consideram o yodelling do Jimmie Rodgers como o primeiro estilo americano. Ele foi um cara importante na sua formação musical?
RH - Comecei com o yodelling depois de escutar artistas de country como Jimmie Rodgers. Acho que essa coisa do yodelling acabou nas canções de cowboy devido à mistura cultural que são os EUA. No início da formação dos EUA os colonos eram irlandeses, escoceses, alemães, espanhóis, etc. Talvez esse estilo tenha vindo com esses europeus. Agora, o yodelling dos Alpes é bem diferente daquele yodelling country americano.
UM – Eu gosto bastante do álbum Something Blue. Você poderia falar sobre o disco?
RH - Something Blue foi gravado em 2016, é o nosso último disco, agora planejamos um novo para o fim desse ano. Something Blue é uma mistura de sons e foi nossa primeira gravação com guitarras. Canções que trazem estilos como country, rockabilly, gospel e swing e tratam de assuntos como política, corações partidos e viagens. Tenho muito orgulho do disco, mas já estou ansioso para gravar o próximo!
UM – Eu conheci Rob Heron and The Tea Pad Orchestra através do programa do falecido Barry Marshall Everitt. O cara foi muito importante para a divulgação de novas bandas na Inglaterra. Poderia falar um pouco sobre ele?
RH - Oh yeah, Barry era uma lenda, o programa de rádio era gravado em um galpão no jardim da casa dele, em Londres. Ele chamou uma cacetada de bandas, deve ter gravado uma banda diferente todo dia! Ele não ligava para o quanto você era famoso, apenas se a música era boa! Gravamos alguns programas com ele em seu galpão, e em todas as vezes ele foi muito amigável, divertido. Sempre apoiando a nossa música! A cena musical britânica sente muito a sua falta, foi um cara único, não existem muitas pessoas como ele por aí.