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Entrevista com Raul de Souza


Raul de Souza foi um dos expoentes da música popular brasileira durante a explosão da Bossa Nova, seu grande mérito foi cruzá-la com o samba e com o jazz. Esse movimento, liderado por nomes como Sérgio Mendes, desenvolveu uma nova identidade musical no país, expandindo as possibilidades de novos diálogos e influências. A Bossa Nova, intelectualizada, de som limpo e delicado, com a potência e o balanço do samba e o impulso inerentemente criativo do jazz. Criador do "souzabone", um trombone com uma quarta válvula, é dono de um timbre bem peculiar. "O meu souzabone tem retorno para nota grave, por isso criei esse trombone com quatro válvulas, para reencontrar a nota Fá grave até o Dó grave. Além disso, eu usava pedais ligados ao meu souzabone", explicou Raul sobre a origem do seu inusitado instrumento.

Durante a sua passagem pelos EUA, Raul de Souza tocou com a nata do jazz e ficou bem próximo do saxofonista Sonny Rollins. "Foi uma experiência fantástica! Nos tornamos amigos instantaneamente, logo que nos encontramos. Infelizmente não pôde fazer a turnê de divulgação do álbum porque fui atropelado por um táxi e fiquei imobilizado durante três mês no hospital. O Sonny me visitou no hospital, ficamos tristes porque não poderíamos continuar juntos nesse trabalho", recordou.

Novamente entre nós, cá nos trópicos, o trombonista fará apresentação única no Blue Note Rio, o novo ponto de encontro da música de qualidade, dia 23 de março. João José, vulgo Raul de Souza, em sua trajetória de quase cinquenta anos, ensina que a música não possui barreiras tais como a nacionalidade. Música é música, e é isso o que mais amamos.

Ugo Medeiros – Seu nome é João José, por que Raul?


Raul de Souza - Porque aos dezesseis participei de dois programas de calouros do Ary Barroso em 1950 e ganhei as duas vez. Na primeira vez o Ary usou o meu nome, João, mas na segunda o Ary mudou para Raulito. Depois eu mudei para Raulzinho.


UM – Quais as suas maiores influências no trombone? Ou as suas influências foram músicos de diversos instrumentos e você acabou transferindo aquelas musicalidades para o trombone?


RS - Minhas influencias foram Frank Rosolino, J.J. Jonhson e John Coltrane, meu mentor. Fui muito amigo de Frank Rosolino, o pai do trombone!


UM - Como você avalia o samba antes e depois da bossa nova? Pergunto isso porque a Bossa Nova mexeu com as estruturas da música popular brasileira...


RS - Eu acho que não mexeu a ponto de mudar, mas, claro, houve uma evolução harmônica, melódica e também rítmica.


UM – Você criou um trombone bem peculiar, com uma quarta válvula, batizado de “souzabone”. Como surgiu essa ideia? O que essa válvula extra te proporciona musicalmente?


RS - Eu tocava, como todos, trombone de 3 válvula. Estava morando nos Estados Unidos e tocava trombone de vara. O meu souzabone tem retorno para nota grave, por isso criei esse trombone com quatro válvulas, para reencontrar a nota Fá grave até o Dó grave. Além disso, eu usava pedais ligados ao meu souzabone.


UM – Impossível falar em samba-jazz e não mencionar Sérgio Mendes. Comparo o impacto da versão dele em Mas que nada no mundo do samba/jazz/latin a Satisfaction dos Rolling Stones, ambas criaram universos a partir de suas respectivas gravações. Você concorda? Você tocou com ele durante um bom tempo, poderia falar sobre o Sergio Mendes?


RS - Eu sei que o trabalho que nós fizemos com o Bossa Rio fez uma baita revolução instrumental arranjada por Tom Jobim e Moacir Santos. Eu não toquei muito tempo com ele, no máximo um ano, Edson Maciel me chamou. Coloquei Edson Machado na bateria e Hector Costita e Aurino, ambos, nos saxofones.


UM - Você morou um bom tempo nos EUA. Como/quando aconteceu essa mudança? Você foi atraído por melhores condições musicais, pela possibilidade de tocar com o top do jazz mundial?


RS - Fui para os EUA por melhores condições monetárias e para obter reconhecimento musical. E isso que aconteceu, gravei quatro discos naquele período. O primeiro foi Colors pela Cia. Milestone, depois Sweet Lucy, Don’t Ask my Neighbors e Till Tomorrow Comes pela Capitol Records. E fiz muitas gravações como convidado.


UM – Durante sua estadia nos EUA você tocou com Sonny Rollins! Poderia falar sobre o relacionamento de vocês e sobre as sessões com ele?


RS - Foi uma experiência fantástica! Nos tornamos amigos instantaneamente, logo que nos encontramos. Infelizmente não pôde fazer a turnê de divulgação do álbum porque fui atropelado por um táxi e fiquei imobilizado durante três mês no hospital. O Sonny me visitou no hospital, ficamos tristes porque não poderíamos continuar juntos nesse trabalho.


UM – Os seus discos Sweet Lucy e Don’t Ask My Neighbors foram produzidos por um dos maiores expoentes do funk, George Duke. Poderia falar sobre a relação com ele?


RS - George Duke foi um grande pianista, grande produtor, compositor, arranjador e um bom amigo.


UM - Samba, jazz e funk são três estilos que falam sobre o mesmo assunto mas em idiomas diferentes?


RS - Sim, são idiomas diferentes porque a Bossa Nova, com compositores como Tom Jobim e João Gilberto, modificou as harmonias e melodias. Mas as raiz rítmicas dos três gêneros vêm da África.


UM – Seu último disco Brazilian Samba Jazz é bem legal! Poderia falar sobre o disco?


RS - O disco fui muito legal para mim porque faz alguns anos que eu me dediquei à composição. Esse álbum é todo autoral, todas minhas próprias composições. Ainda lançarei, também, mais dois álbuns que gravei na França.


UM – Dia 23 de março você estará no Blue Note Rio, finalmente te verei de perto! Qual será o formato do show?


RS - No baixo Glauco Solter, que gravou comigo Brazilian Samba Jazz, na bateria Erivelton Silva, no piano meu amigo Hamleto Stomato, eu no trombone e saxofone. Tocaremos minhas composições e algumas outras surpresas.

ENGLISH VERSION:

Ugo Medeiros – Your name is João José, why do you use Raul?


Raul de Souza - When I was sixteen years old I participated in two Ary Barroso's talent program in 1950 and I won both. The first time Ary used my name, John, but on the second Ary changed for "Raulito". Then I moved to Raulzinho.


UM – What are your biggest influences on the trombone? Or were your influences musicians of various instruments and you ended up transferring those musicalities to the trombone?


RS - My influences were Frank Rosolino, J.J. Jonhson, and John Coltrane, my mentor. I was very close to Frank Rosolino, the father of the trombone!


UM - How do you rate samba before and after bossa nova? I ask this because Bossa Nova rocked with the structures of Brazilian popular music...


RS - I think it did not move to the point of change, but of course there was a harmonic, melodic and also rhythmic evolution.


UM – You created a very peculiar trombone, with a fourth valve, called "souzabone". How did this idea come about? What does this extra valve give you musically?


RS - I played, like everyone, a 3-valve trombone. I was living in the United States and played the stick trombone. My souzabone has a return to a low note, so I created this trombone with four valves, to rediscover the low F until the low C. Also, I wore pedals attached to my souzabone.


UM – Impossible to talk about samba-jazz and not mention Sérgio Mendes. I compare the impact of his Mas que nada version in samba/jazz/latin world to Rolling Stones Satisfaction, both created universes from their respective recordings. Do you agree? You played with him for a long time, could you talk about Sergio Mendes?


RS - I know that the work we did with Bossa Rio made a great instrumental revolution arranged by Tom Jobim and Moacir Santos. I did not play for a long time with him, no more then one year, Edson Maciel called me. I put Edson Machado on drums and Hector Costita and Aurino, both on saxophones.


UM - You lived a good time in the USA. How/when did this change happen? Have you been attracted by better musical conditions, by the possibility of playing with the top of world jazz musicians?


RS - I went to the US for better monetary conditions and for musical recognition. And that's what happened, I recorded four albums in that period. The first was Colors by Milestone, then Sweet Lucy, Do not Ask My Neighbors and Till Tomorrow Comes by Capitol Records. And I did many recordings as a guest musician.


UM – During your stay in the USA you played with Sonny Rollins! Could you talk about your relationship and the sessions with him?


RS - It was a fantastic experience! We instantly become friends as soon as we met. Unfortunately he could not be on promo's album tour because I got hit by a taxi and I was immobilized for three months in the hospital. Sonny visited me at the hospital, were were sad because we could not continue working together.


UM – Your albums Sweet Lucy and Do not Ask My Neighbors were produced by one of the greatest exponents of funk, George Duke. Could you talk about the relationship with him?


RS - George Duke foi um grande pianista, grande produtor, compositor, arranjador e um bom amigo.


UM - Samba, jazz and funk are three styles that talk about the same subject but in different languages?


RS - Yes, they are different languages because Bossa Nova, with composers like Tom Jobim and João Gilberto, modified the harmonies and melodies. But the rhythmic roots of the three genres came from Africa.


UM – Your last Brazilian Samba Jazz album is really cool! Could you talk about the record?


RS - The record was really cool for me because it's been some years since I've been composing. This album is all author, all my own compositions. I will also release two more albums that I recorded in France.


UM – March 23rd you'll be at the Blue Note Rio, I'll finally see you up close! What will be the format of the show?


RS - In the bass Glauco Solter, who recorded with me Brazilian Samba Jazz, on drums Erivelton Silva, on piano my friend Hamleto Stomato, me on trombone and saxophone. We will play my compositions and some other surprises.

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