Bate-papo com Mississippi Jake
O Coluna Blues Rock ama o blues de Chicago e o blues-rock, mas nunca escondeu que o verdadeiro amor é o country-blues. Simplicidade, melancolia, a dor solitária, o lamento desesperançoso, receita infalível para uma música tradicional que leva o ouvinte aos longínquos anos 20/30. E Mississippi Jake honra essa herança rural e cria uma deliciosa música com blues, bluegrass e country-blues, nunca se afastando do modo de vida singelo e trabalhador. "Sempre houve um profundo fascínio dentro de mim pela cultura e música rural americana. É uma honra para mim traçar/me inspirar as raízes da minha música em artistas pré-Guerra. Há uma crueza e coragem em tocar e escrever que tento capturar na minha própria música", comentou.
Além de apresentações solo e com uma formação inspirada no bluegrass, Jake também performa ao lado de Todd Albright (já entrevistado pelo Coluna Blues Rock). "Todd e eu nos conhecemos em um show. Ele é uma peça genuína, uma raça rara que aceita de bom grado uma vida de pobreza a fim de buscar o que ama. Passamos muito tempo falando sobre o negócio da música e a luta que é", revelou.
Mississippi Jake é um alívio à alma em dias tão estranhos e escuros, é a certeza que a vida rural nunca será apagada. Que a sua música inspire o leitor a explorar um mundo mais inocente, menos frenético, barulhento e esquizofrênico.
Ugo Medeiros - O blues ainda é forte no Sul dos EUA? Digo, direta ou indiretamente, as pessoas ainda escutam blues ou tornou-se apenas uma antiga tradição? Ele ainda é presente nas periferias, sobretudo nas comunidades negras, ou perdeu espaço para o hip-hop?
MJ - Na minha experiência, as raízes tradicionais ainda são muito profundas/presentes nos Estados Unidos. Blues no sul não é uma exceção a isso. Eu vi minha geração empurrar a música de raiz para longe durante a adolescência, mas voltar a ela anos depois. Eu conheço inúmeras pessoas que pularam no rock and roll, mas voltaram às raízes.
UM - Como o blues entrou na sua vida?
MJ - No Missouri rural você se depara com muitas variedades de música de raízes. É uma área de trabalho que a música de raiz fala/se dirige. Hoje eu ocasionalmente me cruzo com alguns caras de blues da minha vizinhança: Matt Woods e Aaron Earl Short são grandes amigos e artistas extraordinários!
UM - Na sua opinião, o blues nasceu no estado do Mississippi ou ao longo do Rio Mississippi?
MJ - Historicamente falando, você pode acompanhar qualquer coisa até o início dos tempos. Não há dúvida de que uma combinação distinta de influências trouxe um som distinto do Delta do Mississippi.
UM - Escutei suas músicas no Spotfy. Uma me chamou atenção: Never trust a man with clean boots, fantástico! Poderia falar sobre a letra?
MJ - Eu venho de uma região muito operária/trabalhadora dos Estados Unidos. Recentemente, botas de trabalho se tornaram tendência na moda. Botas de trabalho são um ícone de trabalho duro e uma vida difícil, não para ser usado como acessórios de moda. Nunca confie em um homem com botas limpas é um aviso: cuidado com quem as usa sem ter qualquer experiência de trabalho. Talvez não seja algo pra o qual daria minha vida mas., masé algo próximo ao coração, algo que amo.
UM - Eu te conheci através do Todd Albright, um cara extremamente talentoso e super humilde! Vocês fazem algumas apresentações juntos. Poderia falar sobre ele?
MJ - Todd e eu nos conhecemos em um show. Ele é uma peça genuína, uma raça rara que aceita de bom grado uma vida de pobreza a fim de buscar o que ama. Passamos muito tempo falando sobre o negócio da música e a luta que é. A música de Todd é fantástica e inspiradora e ele é um verdadeiro crente da importância da música e da partilha do que ele faz.
UM - A sua banda de apoio tem uma formação incomum: banjo, fiddle e upright bass. Talvez la atrás nos anos 30, nas zonas rurais, fosse algo bem comum. Isso fala muito sobre você, acho que você tem uma grande fascinação pela coisa do rural, não?
MJ - Às vezes recebo a banda completa, The Bootleggers Orchestra, para gravar ou fazer shows. Eu cresci no Ozarks do sul do Missouri [N.E: Ozarks, também chamado de Ozark Mountains ou Ozark Plateau, é uma região fisiográfica nos estados norte-americanos do Missouri, Arkansas, Oklahoma e extremo sudeste do Kansas], então a tradição do bluegrass corre nas minhas veias. Sempre houve um profundo fascínio dentro de mim pela cultura e música rural americana. É uma honra para mim traçar/me inspirar as raízes da minha música em artistas pré-Guerra. Há uma crueza e coragem em tocar e escrever que tento capturar na minha própria música.
UM - Poderia indicar bluesmen do Mississippi? Seja conhecidos ou mais obscuros... Quais os seus favoritos?
MJ - A maior parte do meu tempo é para ouvir as pessoas que conheço e o que elas estão produzindo. Matt e Aaron foram mencionados antes, mas há tantos que me deparei. Joe e Vickie Price, Diego Danger e centenas de outros ainda tocam blues em Dive bars [N.E: termo mais próximo, ainda que bem diferente, do "boteco"] em todo o meio oeste.
ENGLISH VERSION:
Ugo Medeiros - Is the blues in the South of the US still strong? I mean, directly or indirectly, do the people still listen or turned just an old tradition? Does it still live on the periphery, especially black, or lost his place to hip-hop?
Mississippi Jake - In my experience, traditional roots music still runs very deep throughout the United States. Blues in the south is no exception to that. I have seen my generation push roots music away duringadolescence but come back to it years later. I know countless individuals who jumped into rockand roll music but come back to roots music.
UM – How did the blues come into your life?
MJ - In rural Missouri, you come across many varieties of roots music. It’s a working class area that roots music speaks to. Today, I get to occasionally cross paths with a few blues fellas in my neck of the woods: Matt Woods and Aaron Earl Short are both great friends and extraordinarily artists.
UM – In your opinion, was the blues born in the state of Mississippi or along the Mississippi River?
MJ - Historically speaking you can keep tracing anything back to the beginning of time. There is no doubt that a distinct combination of influence brought a distinct sound from the Mississippi Delta.
UM – I listened to your songs on Spotfy. One caught my attention: Never trust a man with clean boots, fantastic! Could you talk about the lyrics?
MJ - I come from a very working class region of the United States. Recently, work boots have become trendy in fashion. Work boots are an icon of hard work and a tough life, not to be used as fashion accessories. Never trust a man with clean boots is a warning: beware of one who looks the part without having any working experience. Perhaps it’s not a hill worth dying on, but it is near to my heart.
UM – I met you through Todd Albright, an extremely talented and super humble guy! You do some presentations together. Could you talk about him?
MJ - Todd and I met at a show. He’s the genuine article. It’s a rare breed that willingly takes on a life ofpoverty in order to pursue the thing they love. We spent a lot of time talking about the music business andthe struggle that it is. Todd’s music is fantastic and inspirational and he is a true believer of the importanceof music and sharing what he does.
UM – Your support band has an unusual lineup for today: banjo, fiddle and upright bass. Maybe back in the 1930s, in the very rural zones, it was something very common. That says a lot about you, I think you have a greater fascination with the rural vibe, do not you?
MJ - Sometimes I get the full string band, The Bootleggers Orchestra, together for recording or shows. I grew up in the Ozarks of southern Missouri, so the bluegrass tradition runs deep in my veins. There has always been a fascination deep within me for rural American culture and music. It’s an honor for me to trace the roots of my music to pre-war artists. There is a rawness and grit to their playing and writing that I try to capture in my own music.
UM – Could you indicate some bluesmen typically from Mississippi? They may be famous or obscure... And what are your favors?
MJ - Most of my time is listening to folks I know and what they are producing. Matt and Aaron were both mentioned before, but there are so many I come across. Joe and Vickie Price, Diego Danger, and hundred others are still playing the blues in dive bars all across the mid west.