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Entrevista Kirk Fletcher


O blues é uma fonte inesgotável, sempre jorrando criatividade e fazendo jus às tradições. Kirk Fletcher poderia ser mais um dessa rica produção cultural-genética, mas consegue desempenhar protagonismo em um mercado cada vez mais estreito. "Acho que o blues é a base de muita música moderna. Os americanos ouvem blues, bem, eles ouvem Eric Clapton, Gary Clark Jr, Marcus King, Buddy Guy, tudo isso é blues ou música baseada no blues, certo? Eu acho que sim e não de certa forma. Muitos jovens não conseguem se relacionar com o blues porque eles não entendem, eu sinto que você tem que se relacionar com a música que você gosta de alguma forma. Então, sim, é um pouco restrito a um determinado mercado ou pelo menos alguns artistas talvez", explicou Fletcher.

Em pouco tempo de carreira, seu álbum de estreia I’m Here & I’m Gone é de 1999, o bluesman já tocou com Kim Wilson (solo) e também com a banda The Fabulous Thunderbirds, e ainda com os Mannish Boys. Outra passagem marcante foi na banda de Joe Bonamassa, talvez o artista de blues-rock mais midíatico da atualidade. "Eu conheci Joe há muitos anos e nos tornamos grandes amigos. Trabalhei em dois projetos, as turnês Muddy/Wolf e 3 Kings na guitarra base. Foi tão maravilhoso sair com meu amigo e ser tratado tão bem. E apenas sair e toda a banda se deu muito bem. Era apenas felicidade em todos os sentidos", contou.

Recentemente lançou My Blues Pathway e, em meio ao "corona-caos", tem divulgado pelas redes sociais o excelente disco. Como de costume poucos lerão a entrevista por inteiro, mas aqueles cumprirem toda a tarefa conhecerão um grande expoente do blues contemporâneo.



Ugo Medeiros - Seu pai era ministro batista, que interessante! Existe uma forte conexão entre músicos de blues e a Igreja Batista, certo? Muitos músicos aprenderam a cantar em coros de igreja. Foi o teu caso?


Kirk Fletcher - Na verdade meu pai era um pregador pentecostal da Igreja de Deus e Cristo. Basicamente, um pregador de santidade dos velhos tempos [old-time holiness preacher] e pastor da igreja. Uma formação religiosa muito intensa para mim quando criança. E, sim, há definitivamente uma grande conexão entre os músicos de blues e a igreja. Eu nunca cantei na igreja, mas toco violão na igreja desde os nove anos de idade.


UM - Como foi o teu primeiro contato com o violão? E o blues?


KF - Meu irmão mais velho, Walter, tocava na igreja do meu pai. Walter me fez começar no violão. Ouvi meus pais falarem sobre a música que dançavam e ouviam antes de encontrar a religião. Então, nomes como Muddy Waters, Howlin' Wolf me interessaram. E depois de um tempo, ouvi esses músicos em uma estação de rádio local. Eu realmente amei o jeito que soou. Era meio parecido com o que eu ouvia na igreja, mas eu sabia que era diferente também.


UM - Você também participou de bandas de jazz na adolescência. Quais artistas de jazz mais te influenciaram?


KF - Eu estava na minha banda de jazz do ensino médio. Mas realmente naquele ponto eu não tinha muita influência do Jazz. Eu gostava de George Benson e Wes Montgomery, mas todo guitarrista que eu conhecia gostava deles naquela época.


UM - Kim Wilson ajudou você no início de sua carreira. Alguns anos depois, você também tocou com ele no The Fabulous Thunderbirds. Você poderia falar sobre o Wilson e os Thunderbirds?


KF - Bem, Al Blake da banda Hollywood Fats é o homem que merece o crédito no início da minha carreira no blues. Ele me apresentou a Kim Wilson. Eu toquei na banda solo de blues de Kim Wilson primeiro. E então Charlie Musselwhite. Depois de Charlie, entrei para os Fabulous Thunderbirds. Todo esse período foi incrível e um verdadeiro aprendizado. Kim foi um ótimo professor e devo muito a ele. Foi uma grande experiência para mim juntar-me a uma das versões do T-Birds. Foi ótimo fazer parte de uma banda e contribuir com o álbum Paint It On (2005).


UM - Como você define West Coast Blues? Qual é a diferença entre West Coast e Chicago blues?


KF - Eu sinto que esses dois lugares são construídos com pessoas migrando. Pessoas se mudando do extremo sul para a cidade grande e você pode ouvir isso na música. Veja Muddy Waters, por exemplo. Ele tocou uma espécie de country blues no sul, um pouco no estilo de Charlie Patton ou Robert Johnson. E quando ele chegou a Chicago depois de um tempo, ficou eletrificado. O Little Walter com sua harpa e um microfone e Jimmie Rogers com seu belo acompanhamento. E realmente o resto é história. As pessoas do West Coast Blues migraram do sul, Oklahoma, Texas e vários outros lugares, incluindo minha família de Arkansas. A costa oeste é geralmente um lugar mais tranquilo. T Bone Walker é mais swing e um tanto Jazzy. Mas essa é apenas uma resposta mais geral. Realmente vai muito mais fundo nisso.


UM - Você poderia falar sobre seu primeiro álbum I’m Here & I’m Gone (1999)?


KF - Sim, basicamente gravei esse álbum para divulgar meu nome e fiquei feliz em fazê-lo. Eu ainda não era um compositor ou cantor, então era como se eu fosse o guitarrista de um disco com outras pessoas cantando ou tocando instrumental. Foi uma alegria fazer isso.

UM - Você teve uma forte ligação com outro gaitista, Charlie Musselwhite. Como você o conheceu?


KF - Acredito que Charlie ouviu falar de mim, e algumas pessoas me disseram que ele estava procurando por mim. Acredito que Rusty Zinn e Doug McCloud me falaram. Ele estava em Los Angeles, vindo da Bay Area, me ouviu tocar e me contratou. Charlie me ensinou muito sobre como encontrar meu próprio estilo. E foi uma experiência fantástica tocar com uma lenda. Gostaria de perguntar a ele sobre todos os meus heróis com quem ele tocou ou contratou para sua banda.

UM - Você poderia falar sobre o período dos Mannish Boys?


KF - Eu estive na maioria dos álbuns dos Mannish Boys, mas tocava principalmente nos Thunderbirds naquela época, então fiz alguns shows com eles. Foi ótimo tocar música com meus queridos amigos.


UM - E quanto a Joe Bonamassa?


KF - Eu conheci Joe há muitos anos e nos tornamos grandes amigos. Trabalhei em dois projetos, as turnês Muddy/Wolf e 3 Kings na guitarra base. Foi tão maravilhoso sair com meu amigo e ser tratado tão bem. E apenas sair e toda a banda se deu muito bem. Era apenas felicidade em todos os sentidos.

UM - Tenho uma curiosidade, hoje em dia quem ouve blues? Quer dizer, o americano médio ainda ouve blues? Ou é algo mais restrito a um grupo específico?


KF - Acho que o blues é a base de muita música moderna. Os americanos ouvem blues, bem, eles ouvem Eric Clapton, Gary Clark Jr, Marcus King, Buddy Guy, tudo isso é blues ou música baseada no blues, certo? Eu acho que sim e não de certa forma. Muitos jovens não conseguem se relacionar com o blues porque eles não entendem, eu sinto que você tem que se relacionar com a música que você gosta de alguma forma. Então, sim, é um pouco restrito a um determinado mercado ou pelo menos alguns artistas talvez.

UM - Como foi tocar com Cyndi Lauper?


KF - Foi ótimo!!


UM - Gosto muito do seu álbum My Turn (2010). Você poderia falar sobre o disco?


KF - Sim, foi um disco divertido de fazer. Meu querido amigo Michael Landau me ajudou a produzí-lo. E meu amigo tocou nele e foi minha primeira vez cantando duas canções em um disco. Foi depois que deixei os Thunderbirds, então eu queria apenas tocar e não pensar em nada em particular. Estilo ou formato. Portanto, foi um marco na minha carreira.

UM - Você lançou um álbum este ano, My Blues Pathway (2020). Por favor, apresente o álbum para nós...


KF - Sim! My Blues Pathway é minha celebração de meu amor ao longo da vida pelo blues e por alguns dos artistas que amo. Depois que gravei meu álbum Hold On (2018), que cantei e escrevi todas as músicas, principalmente, isso me deu confiança para fazer esse álbum. No ano passado, em setembro de 2019, eu estava começando a sentir vontade de gravar outro disco, então comecei a reunir ideias. Originalmente, pensei que faria outro álbum semelhante a Hold On, mas depois toquei no The King Biscuit Blues Festival em Helena, Arkansas. E realmente tocou meu coração estar lá. Eu já havia tocado nesse Festival muitas vezes. Desta vez, tinha um significado diferente. Eu percebi que era hora de fazer aquele disco de blues que eu sempre quis fazer. Eu tinha ouvido muito soul do sul e blues nessa época. Então eu comecei a trabalhar nas músicas que queria fazer. E é uma mistura de covers e autorais. Eu queria fazer um disco que celebrasse o blues que eu vi quando comecei a ir a clubes e os discos que eu ouvia naquela época. Então, em dezembro passado, próximo às festividades de Natal, gravei em Los Angeles com meus velhos amigos. Estou muito animado com isso e espero que gostem!






ENGLISH VERSION:


Ugo Medeiros – Your father was a Baptist minister, that’s interesting! There is a strong connection between blues musicians and the Baptist Church, right? Many musicians learned to sing in church choirs. Was that also your case?


Kirk Fletcher - Actually my father was a Pentecostal preacher from the Church of God and Christ. Basically a old-time holiness preacher and paster of the church. So pretty intense religious background for me as a kid growing up. And yes there is definitely a big connection between Blues musicians and the church. I didn’t ever sing in church, but I played guitar in church since I was about 9 years old.

UM – How was your firts contact with the guitar? And what about the blues?


KF - My older brother Walter played in my fathers church. Walter got me started on guitar. I heard my parents talk about the music they danced and listened to before they found religion. So the names like Muddy Waters, Howlin Wolf interest me. And after awhile I heard these musicians on a local radio station. I really loved the way it sounded. It was sort of like what I heard in church but I knew it was different too.

UM – You were also in jazz bands during your teenage years. Which jazz artists influenced you the most?


KF - I was in my High School Jazz band. But really at that point I didn’t really have much Jazz influence. I liked George Benson and Wes Montgomery, but every guitar player liked them around me at that time.

UM – Kim Wilson helped you at your career beginning. Some years after you also played with him on The Fabulous Thunderbirds. Could you talk about Wilson and the Thunderbirds?


KF - Well Al Blake from the Hollywood Fats band is the man who deserves the credit at the beginning of my Blues career. He introduced me to Kim Wilson. I played in Kim Wilson’s solo Blues band first. And then Charlie Musselwhite. After Charlie I joined the Fabulous Thunderbirds.

This whole period for me was incredible and a true learning experience. Kim was a great teacher and I owe him a lot. It was a great experience for me to join one of the versions of the T Birds. It was great to be a part of a band and contribute to the album “Paint it on”

UM – How do you define West Coast Blues? What’s the difference between West Coast and Chicago blues?


KF - I feel these two places are built on people migrating. People moving from the deep south to the big city and you can hear it in the music. Take Muddy Waters for example. He played a kind of country Blues in the south, somewhat in the style of Charlie Patton or Robert Johnson. And when he made it to Chicago after a while it became electrified. Little Walter with his Harp with a microphone and Jimmie Rogers with his beautiful accompaniment. And truly the rest is history. West Coast Blues people migrated from the south, Oklahoma, Texas and various other places, my family included from Arkansas. The west coast is generally a more laid back place. T Bone Walker is more Swing and somewhat Jazzy. But that is just a more general answer. It really goes way deeper into it.

UM – Could you talk about your first álbum “I’m Here & I’m Gone” (1999)?


KF - Yes I basically recorded that album to get my name out there and I was happy to do it.

I wasn’t a songwriter or singer yet so it was like I was the guitar player on a record with other people singing or I did instrumentals. It was a joy to make it.

UM – You had a strong connection to another harmonica player, Charlie Musselwhite. How did you meet him?


KF - Charlie I believe heard about me, and a few people told me he was looking for me. I believe Rusty Zinn and Doug McCloud told me. He was in LA from the Bay Area and he heard me play and he hired me. Charlie taught me a lot about finding my own style. And it was a Fantastic experience to play with a Legend. I would ask him about all of my hero’s that he had played with or hired for his band.

UM – Could you talk about the Mannish Boys period?


KF - I was on most of the Mannish Boys albums, but I was mainly playing in the Thunderbirds during that time, so I did some shows with them. It was great to play music with my dear friends.

UM – And what about Joe Bonamassa?


KF - I first met Joe many years ago and we became great friends. I worked on two projects the Muddy/Wolf and 3 Kings tours on rhythm guitar. It was so wonderful to go out with my friend and be treated so well. And just hang out and the whole band got along so well. It was just happiness in every way.

UM – I have a curiosity, nowadays who is listening to the blues music? I mean, the average American still listens to the blues? Or is it something more restricted to a specific group?


KF - I think Blues music is the base for a lot of modern music. Do Americans listen to Blues, well do they listen to Eric Clapton, Gary Clark Jr, Marcus King, Buddy Guy, thats all either Blues or Blues based music right? I think yes and no in a way. A lot of young people can’t relate to blues because they don’t understand it, I feel that you have to relate to the music you like in some way. So then yes it is somewhat restricted to a certain market or at least some artists are maybe.

UM – How was to play with Cyndi Lauper?


KF - It was great!!

UM – I like a lot your “My Turn” (2010) álbum. Could you talk about it?


KF - Yes that was a fun record to make. My dear friend helped me produce it Michael Landau. And my friend all played on it and it was my first time singing on a record on two songs. It was after I left the Thunderbirds so I wanted to just play and not think of any particular. Style or format. So it was a stepping stone in my career.

UM – You released an álbum this year, “My Blues Pathway” (2020). Please, introduce the álbum to us...


KF - Yes! My Blues Pathway is my celebration of my lifelong love for Blues music and some of the artist that I love. After I recorded my 2018 “Hold On” album that I sang and wrote all the music mostly, it gave me the confidence to do this record. Last year in September 2019 I was starting to get the urge to record another record, so I started gathering ideas. I originally thought I would do another record similar to “Hold On” but then I played The King Biscuit Blues Festival in Helena Arkansas. And it really touched my heart to be down there. I had played this Festival many times before. This time it had a different meaning. I realized it was time to do that Blues record I had always wanted to do. I had been listening to a lot of southern soul and Blues around this time. So I just started to work on which songs I wanted to do. And it is a mix of covers and originals. I wanted to make a record that celebrated the Blues music that I saw when I first started going to clubs and the records I was listening to at that time. So last December around the Christmas holidays I recorded it in Los Angeles with my old friends. So I am very excited about it and hope you enjoy it.

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